Auto-Acusação

Auto Acusação de Peter Handke

Laboratório de Texto com Joana Providência e Maria do Céu Ribeiro

Alunxs do 1º ano da Licenciatura em Teatro da Universidade do Minho

18/06/2021

Errar é humano. A autobiografia é uma sucessão de falhanços. A vida, uma
amálgama de mal-entendidos. O espaço que se estende e comprime, em
movimentos circulares. Simpoiese. Dimensões que se entrecruzam,
atravessam. O pecado original, a queda do paraíso? A vida do sujeito como
objecto da sociedade. A certeza do arrependimento. A marcação da
identidade como forma de pontuar a subjectividade. A relatividade da esfera
da ação humana. Todas as pessoas passam pelo rompimento do nascimento.
Erupção ou despejo? A passagem do estado de natureza ao “sujeito
civilizado”. Conhecer as regras do jogo. Humanismo, existencialismo, Moral e
Ética. Sickness unto Death, doença de morte. A incapacidade de suportar o
peso do passado. O passado como trauma, como fantasma. A memória como
trauma. O limbo entre a afirmação (da ideia) e a negação (do erro da ação).
Ou a impossibilidade da ética ( de ser totalizante) ou da moral ( de ser única
e não relativa). A impossibilidade da objectividade. A impossibilidade do sexo.
A impossibilidade em si. O excremento, ou excedente, o que está a mais. O
consenso, o bom-senso e o dissenso. O errante, a busca, como característica
do espírito. A falibilidade da intensão. A confissão como abertura do mais
íntimo, abertura à possibilidade (de perdão?) de piedade, de
arrependimento? Abjuração? Auto censura e auto mutilação. O ódio
direccionado ao eu. O ego em confronto com si mesmo. O Ego dominado pelo
‘super-Ego’. O super Ego como voz da ordem, que culpa o seu eu de um erro
insondável, inominável, imperdoável. O eu, reconhecendo-se como lixo,
excremento humano. A mente em confronto com o corpo. A posição de
acusador e culpado num só eu. Eu acuso-me, eu sou acusado. Eu como todo,
todo humano, sociedade(?), colmeia e colónia. Eu, além do todo, intra, infrasocial.

Eu como parte da comunidade dos vivos, dos seres errantes, ( que são todos, tudo)
comunidade astral, planetária? A culpa como corrosivo da pele.
Que arranha, raspa, apodrece. Humús, humano, humor? E o amor? A
afirmação da verdade interior como mentira. A universalidade das
características psico-somáticas? O sintoma, latejante. A terapêutica da
palavra. A cura psicanalítica. O cenário (oceanário) como palco da vida
interior, e o palco como cenario da vida exterior, da relação, do mútuo
estranhamento. A curió-sidade. De novo, o tempo distende-se, o espaço
ondula, os limites esvaem-se e fixam-se noutro tempo. Variações quanticas,
saltos quânticos, (bomba) atómica e meta-…. A gravidade atenuada pelo calor
do som, o social como palco de confronto, o Indivíduo como cenário de
guerra, esquizofrenias realistas.


Miguel Cardoso, 18/02/2020
Reflexão sobre “Auto Acusação” de Peter Handke

encenação de Joana Providência e Maria do Céu Ribeiro